Em meio ao aconchegante espaço do Restaurante Lorita, flores e louças repousam em plácidas e desconcertantes composições. Há flores nos vasos, perfumando e embelezando o ambiente, assim como há flores nas superfícies das telas e dos papéis, ora facilmente identificáveis, ora mergulhadas em meio às suaves ou febris linhas do desenho.
Há ainda a louça, cuidadosamente posta sobre as mesas, aguardando os apreciadores da excelente gastronomia que a casa oferece. Mas há também louças em curioso equilíbrio: potes sobre pratos; pratos sobre tijelas; pratos sobre pratos, sobre muitos pratos, dando forma a suntuosos abajures e vasos. Vasos que, por sua vez, abrigam flores...Nessa enredada cadeia, um encontro inusitado de formas, de funções e de conceitos, cujo resultado não poderia ser outro: surpreendente. A maestrina desse retumbante e, ao mesmo tempo, silencioso concerto é Roseli Jahn, artista que há anos vem desenvolvendo uma instigante poética, no cruzamento entre as artes visuais e o design.
Ao brincar, de um lado, com flores, que freqüentemente adornam os recantos do lugar e, de outro, com peças semelhantes às usadas no serviço do restaurante, Roseli desloca as convenções do espectador, motivando-o a olhar para o cotidiano com mais vagar e a encontrar certa poesia nos mais singelos artefatos. Suas obras, que tanto instigam a visão e o desejo tátil, fazem do Lorita, com seus gostos e aromas requintados, um verdadeiro templo dos sentidos.
Paula Ramos
Jornalista e Crítica de Arte
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